domingo, 10 de novembro de 2013

PLANOS PARA OUVIR RAVEL

PARTE II

O CAMAROTE

Subi nervosíssima a rampa do Teatro Amazonas e me dirigi à porta de entrada. O porteiro me lançou um breve olhar indagador mas, não disse nada. Entrei. Ainda faltava meia hora para o início do concerto. Aguardei no hall do Teatro juntamente com um número já considerável de pessoas que também ali puseram-se a esperar. Umas poucas pessoas lançavam-me olhares especulativos, outras fingiam ser normal a minha indecifrável presença ali. Procurei agir da forma mais natural possível e, portanto, pus-me a caminhar bem á vontade ao longo do hall. Houve um momento em que resolvi tomar um pouco de ar  na parte externa do Teatro que nos proporciona uma bela vista para a Praça São Sebastião, àquela altura, tomada de gente. Escorei-me á amurada para apreciar o movimento  das pessoas lá embaixo. Senti uma leve brisa acariciar-me o rosto, espalhando o meu doce perfume de fêmea em derredor. Sentia-me livre. Uma mulher de fibra. De coragem. Afinal, pensei novamente, eu não estava fazendo nada de errado, estava? Só vim ao Teatro para assistir Ravel. Foi quando ouvi aproximar-se de mim, uns passos firmes e fortes de um sapato.  Olhei para o lado. Um senhor alto, de seus 50 e poucos anos, bem apessoado - elegante - estava ali parado, olhando para a mesma direção. Cogitei que fosse apenas alguém que viera tomar um pouco de ar como eu, e olhar a paisagem. Mas aquele homem passou a encarar-me discretamente. Tive a leve impressão que ele avaliava-me dos pés á cabeça. Não tardou para ele puxar assunto:
"Que noite hein?" Sorri. "Você  é daqui mesmo?"
"Sim, sou." Virei-me para ele. Penetrava-me com seu olhar. Era um senhor de fato elegante . Branco e bem mais alto que eu. Senti um tremor no corpo todo quando o vento soprou-me novamente o rosto, desalinhando levemente a franja dos meus cabelos cuidadosamente penteados.
"Sou de Piracicaba. Estou á Manaus à trabalho. Sou engenheiro químico. É uma bela cidade e vocês tem um belo Teatro."
"Ah, obrigada." Disse-lhe. Retribuiu com um sorriso sereno e voltou a olhar a praça novamente. Esperei que ele dissesse algo mais, mas ele então se afastou. Na certa  - pensei - descobriu que eu não era mulher, e decepcionado, partiu. Pouco importa. Eu não estava ali para ser cortejada e nem esperar algo de ninguém. Contudo, ao me ver fatigada de olhar aquela paisagem, e já preparando-me para adentrar ao teatro, ouvi os passos outra vez daqueles sapatos austeros se aproximando bem devagar. O tal senhor estancou novamente ao meu lado, e desta vez, acendendo um cigarro, me disse:
"Fuma?"
"Não, senhor."
"Por favor, nada de senhor. Meu nome é Mauro. Mauro Salles. E o seu?"
"Márcia. Márcia Santana." Dei-lhe a mão para cumprimentar-me. Demorou-se no cumprimento, segurando-a com certa gentileza. Era sem dúvida, um gentleman.
"Então, Márcia, sempre vem ao Teatro?"
"Para ser franca, muito raramente."
"E o que a fez vir hoje ao Teatro?"
"Ravel, é claro. Adoro Ravel."
"Hummm...Somos dois. Também adoro Ravel. Na verdade, adoro ópera. E Ravel é o meu compositor predileto. Também sou apreciador de Vivaldi e Mozart. Algumas árias e sinfonias de Bethoven também me deixam encantado."
"Sério? Como a nona?"
"Sim, a quinta e a velha nona..."
 Eu não estava acreditando no curso daquela conversa. Eu ali, diante de um homem finíssimo e certamente culto cuja predileção musical e gosto casavam perfeitamente com os meus.   E o que era de mais estranho, é que o tal senhor parecia não fazer alguma objeção quanto ao fato de eu não ser uma mulher. Já devia ter percebido, é claro. Não era nenhum bobo. Aquilo, por certo, deixou-me intrigada, mas coloquei aquela questão de lado e dei margem para seguirmos com a conversa. E naquele meio termo, dialogamos docemente sobre variados assuntos envolvendo música e outras artes em geral. Foi quando ouvimos o som da sineta conclamando o público para adentrar a sala principal do Teatro. Pois que o concerto enfim, se iniciaria.
   Ele seguiu ao meu lado, sem cerimonias, e antes de nos separarmos, ele me disse:
"Olha, eu estou nesse camarote. Fica no terceiro andar. Disseram-me que tem uma ótima vista. Não quer acompanhar o concerto comigo?"
"Mas é que..." O que eu poderia lhe dizer.
"Mas é que o quê? Estou sozinho, não haverá problemas." As pessoas tomavam seus assentos devagar. Estávamos como que bloqueando a entrada do público. Eu tinha que pensar rápido.
" Vou pensar se vou, oquei?"
"Pense bem, meu anjo. Vou lhe aguardar! Camarote treze. Terceiro andar."
     Nos despedimos.
Tomei meu assento, ofegante, depois daquele encontro. Fiquei pensando se ia ao seu encontro ou não. Olhei discretamente para cima antes da segunda sineta tocar e das cortinas se abrirem. Meu coração palpitava. O concerto duraria duas horas e seria dividido em três atos. Aquele senhor estaria lá em cima, sozinho em seu camarote, me aguardando. E ele não estava brincando. Que chic! Parecia coisa de cinema ou uma obra de Flaubert. A sineta tocou outra vez e as luzes se apagaram. Um silêncio se fez. É claro que o concerto abriria com o famoso Bolero de Ravel que inicia suavemente e vai crescendo, crescendo, crescendo e tomando conta da nossa alma. A versão original é de 12 minutos e é como um orgasmo divino, duradouro, exepcional. Quem nunca ouviu Bolero de Ravel, eu aconselho a ouvir. É como se sentir no céu rodeado de anjos lindos te acariciando o corpo inteiro. Depois do Bolero, mas três árias e o  break de dez minutos. Deixei o meu lugar e fui para o hall onde eles costumam servir um chazinho com biscoitos. É como se sentir em uma parte da Europa. Uma Europa cravada nos trópicos. Segue-se à risca todos os costumes do Teatro europeu Não esquecendo que Manaus, em pleno ício do século XIX, imitava os costumes e modos da Europa. Tudo era exportado de lá. Até a forma de pensar. Uma cidade com modelo europeu. Entrar no Teatro Amazonas é como voltar aquele tempo. O tempo áureo da economia da Borracha. Aquele monumento exuberante era um resquício do que foi Manaus no passado. Eu divagava sobre aquilo quando aquele  senhor aproximou-se outra vez. Quase derrubei a xícara de chá quando ele abordou-me com sua voz grave e austera:
"Então, que está achando de Ravel?"
"Ai, desculpe! Bom, é maravilhoso."
"Sabia que a origem do Bolero surgiu do pedido de uma dançarina Húngara chamada Ida Rubinstein, que encomendou a Ravel a criação dessa música para um balé clássico á moda espanhola?"
"Não, não sabia. Me conte."
"Ele imediatamente pensou num conjunto de peças para piano e estava ali pronto uma  obra maravilhosa. Na época, causou polêmica porque em cima da música, a tal dançarina criou uma coreografia sensual, erótica... Repare que ela começa devagar e vai aumentando gradativamente..."
"É como um orgasmo que vai crescendo dentro da gente... Ai, me desculpe! Essa minha língua."
"Não se preocupe, meu anjo, você está certa. Esta é a melhor definição para o Bolero de Ravel. Um orgasmo crescendo até explodir dentro da gente..."
Rimos os dois. Não demorou para a sineta tocar e todos devagar foram adentrando a sala principal e tomando seus assentos.
"Vamos?" Eu disse.
"Um momento! Não vai me fazer uma visitinha em meu camarote? Ainda lhe aguardo." Como de costume, mordia os meus lábios inferiores demonstrando bastante dúvida. Aquele homem me queria. O que eu poderia fazer? Ah, Márcia, sua tonta, só se vive uma vez na vida. E a vida são riscos oportunos. Refleti.
"Han?"
"Sim. "
"Sim o quê?"
"Irei bem rapidinho, oquei?"
"Então ficarei lhe aguardando."
Tentei me concentrar direito no segundo movimento da ópera, mas só de imaginar que eu poderia estar ali, envolvida nos braços daquele cavalheiro educado e sedutor, eu me perdia em meu equilíbrio mental, e num súbito, levantei-me e me dirigi ao camarote treze. Antes passei no banheiro e retoquei bem a maquiagem, passando aquele batonzinho básico. Estava divina. Atravessei um corredor amplo e escuro e subi as escadas que levavam à parte superior do Teatro. Havia uma fileira interminável de camarotes que faziam o contorno de todo o teatro. Fui procurando o camarote Treze. Lá estava ele. Bati de leve. Uma única batida. Uma doce batida. Meu coração soava descompassadamente. A porta se abriu e aquele senhor prostrou-se a minha frente abrindo um sorriso encantador:
"Entra minha flor, eu estava lhe esperando." Entrei. Confesso nunca ter entrado em um camarote daqueles. Era pequeno, aconchegante e climatizado. Sem dúvida que tinha uma bela vista e aquele em particular, pegava um ângulo perfeito do palco.
"Gostou, princesa?"
"Tem uma vista panorâmica perfeita."
"Privilegiada eu diria. Mas fique á vontade. Até vinhos eles servem. Gosta de vinhos?"
"Nossa, adoro.Mas por que está fazendo isso?"
"Isso o quê?"
"Me convidando para cá, ah sei lá..."
"Gostei de você. Desde a primeira vez que lhe vi entrado neste Teatro. Estava sozinha e bastante nervosa. Não sei se por causa de Ravel ou por outro motivo."
"Certamente por outra coisa. E você deve saber o que é."
"Não não sei, e a mim não interessa. Mas e agora? Está mais relaxada?"
"Sim, mais segura. Obrigada!"
Aí ele nos serviu dois cálices de vinho, e ficamos ali degustando daquela suave bebida enquanto ouvíamos o segundo movimento. Era como um sonho. Eu só podia estar dentro de um sonho. Senti quando suas mãos desceram de leve a minha coxa. Ele agora me puxando para perto de si, cheirando-me o pescoço, falando-me umas coisinhas paternais no ouvido. Como resistir a tudo aquilo. Fui me deixando seduzir por aquele homem forte e ligeiramente grisalho. Tomou de assalto meus lábios enquanto suas mãos grandes e suaves agarravam-me as partes internas da coxa.Ah, Ravel, tua sinfonia é maravilhosa. Divina. Bálsamo para a carne e o espírito.
"Você é tão linda, tão cheirosa, Márcia..." Ele me dizia mordendo-me de leve o lóbulo da orelha. Saltei uns gemidinhos para deixá-lo mais enlouquecedor. Eu estava entregue aquele abraço forte e viril. Tocava-me os seios, mordiscava-os por sinal. Como controlar-me se já estava inteirinha entregue aquele homem sedutor. Iríamos transar ali mesmo, naquele camarote. Meu Deus! Que loucura! Ele levantou o meu vestido e passou a acariciar-me as costas largas descendo em direção ás minhas nádegas. Pegou-as com vontade, enterrando lentamente um de seus dedos no meu buraquinho que já dilatava de tanto desejo e tesão:
"Quero você, mocinha!"
"Ai, não, por favor, aqui não."
"Aqui sim!"  Não resisti e me pus de joelhos, abrindo logo em seguida o zíper de sua calça e abocanhando o seu imenso e duro pênis que já se mostrava enfurecido, pronto para ser sugado. E eu o suguei sofregadamente. Fiquei de quatro, com o vestidinho levantado, a bundinha a amostra enquanto o chupava vorazmente aquele seu imenso mastro ao som de Ravel que tocava magistralmente tornando aquele momento um momento sublime e maravilhoso. Enquanto eu o chupava, ele me olhava superiormente com aqueles olhos de homem que enfim, domou e seduziu a sua putinha e que agora usufrui dela o que lhe é de direito.
"Chupa! Chupa bem chupado! Esse pau é seu, mocinha!" Fazia o que ele mandava. Chupava ora com delicadeza, ora com selvageria. Ele me olhando sempre sério do alto de seus cinquenta e poucos anos. Um coroa magistralmente lindo. Senhor de si e de mim.
"Está gostando, minha putinha?" Não podia nem falar com aquele imenso falo entalado em  minha boca. Mas consegui lhe dizer que sim. Que estava adorando.  Ele retirou o seu membro de minha boca e com ele, deu-me alguns tapinhas e esfregou-me o rosto todo. Depois meteu de volta à boca e ordenou que voltasse a chupar. Eu prontamente obedeci. Estava de quatro e totalmente submissa aquele homem.  Houve um momento em que ele puxou-me levemente pelos cabelos e ordenou que eu o beijasse a boca. Assim o fiz, provando de seus lábios com gosto de vinho. Depois voltei a minha posição de cadelinha e tornei a chupá-lo. Enquanto eu o chupava, ele olhava a ópera como se nada tivesse acontecendo ali, naquele camarote. Já estava chegando no final do segundo ato, e já lhes adianto que não arredamos o pé daquele camarote um só momento durante a trepada, ficamos ali trancadinhos comigo fazendo o serviço todo. Quando ele já estava com o seu pênis em brasa, super duro, pediu para comer meu cuzinho. Eu então, antes do início do terceiro e último movimento de Ravel,  sentei em seu colo e fui atravessada pelo seu enorme pênis duro que encaixou-se direitinho em meu cuzinho. Ah, como foi gostoso movimentar-me para cima e para baixo naquele membro duro, ao som de Ravel, sentindo aquele homem saindo e entrando dentro de mim. Fui me sentindo uma puta absoluta e soberana, sendo enrabada na surdina em pleno Teatro Amazonas. Saltava gritos lancinantes que se confundiam com os tambores e violinos de Ravel. Ninguém iria escutar mesmo. Todos lá embaixo estavam hipnotizados. E eu ali sendo comida. Eu montadinha naquele homem forte e viril beijando-me selvagemente os lábios de vinho e também meus peitinhos. E eu aí então, sentindo o gozo se aproximar, abracei aquele homem bem forte e deixei que ele me penetrasse ainda mais fundo, e eu então gozei... gozei como nunca tinha gozado antes em toda minha vida...Um gozo lancinante, arrebatador que não sei se conseguiria descrever pormenorizadamente aos senhores...E coincidentemente, o gozo que nos invadiu, foi bem no momento da parte final do terceiro  movimento, parecendo que tudo foi perfeitamente cronometrado. Essas coisas que a gente não explica e que infelizmente parece acontecer só uma vez na vida.
Ele ainda olhou-me sério, mas depois sorriu, beijando-me os lábios delicadamente. Quando isso acontece, é porque ambos fomos completados e atravessados pelo poder do desejo e da paixão.
 Eros e Tanatos.Como se não bastasse, o gentil cavalheiro ainda levou-me para jantarmos em um restaurante que ficava alguns quarteirões dali. Lá, conversamos um pouco mais sobre nós, rimos e a toda hora nos lembrávamos de nossa loucura. Trocamos telefone, e ele prometeu que assim que voltasse de Urucu, onde exercia a função de engenheiro em uma empresa que extrai gás natural, ele me ligaria para sairmos. Antes de deixarmos o restaurante, ele adiantou-se em ligar para um Rádio Taxi para vir me buscar, mas prontamente lembrei-me do maciste, que por certo, estava a espera do meu chamado. Lembram do maciste?  Ele ligou para aquele número, e só deixou minha companhia  quando o taxi parou bem na porta do restaurante para me apanhar. Nos beijamos discretamente, e eu entrei no taxi. O maciste me olhou e me disse:
"Para casa, senhorita?"
"Sim.. para casa, meu bem."
Seguimos. A certa altura, ele pareceu tomar coragem e perguntou:
" E como foi a noite com Ravel?"
"Inesquecível..." Disse-lhe sorrindo.
Única e inesquecível noite, pois aquele senhor que me tornou plenamente realizada e feliz, nunca mais me procurou... Mas a vida da gente é assim mesmo: mágica e cheia de surpresas. Segue doce e lentamente, sem muita pressa. Para que a pressa se a vida da gente afinal é como um Bolero de Ravel...

Nenhum comentário:

Postar um comentário